O primeiro a fazer uso da palavra foi Danilo Sant`Anna, que indicou que o primeiro passo a ser dado para salvar a pecuária gaúcha e valorizar a carne produzida no estado vem da identificação de origem da carne que será comercializada na gôndola, sendo essencial até mesmo com indicação geográfica. O segundo, é como comunicar isso para o consumidor. “Não basta este produto ter uma identificação, ele tem que estar separado perante o consumidor. E hoje a gente vai no mercado e as carnes estão todas misturadas”, destacou Sant´Anna.
O pesquisador ressaltou ainda a importância do produtor, do lado de dentro da porteira, se preocupar com qualidade, constância e acabamento da carne. “Uma vez que o consumidor identifica uma marca, ele fideliza e esta é uma responsabilidade do produtor, não da indústria”, destacou. Danilo Sant´Anna disse ainda que o Uruguai ensina que o cooperativismo auxilia neste sentido. “Precisamos de uma malha de frigoríficos habilitados para conseguir atingir mais mercados”, aconselhou. Outro ponto levantado foi o de buscar mudança nos sistemas de produção para, por exemplo, não acontecerem vazios forrageiros e “fazer sistemas altamente produtivos, estáveis, resilientes para garantir o animal todos os dias do ano”.
Na sequência, Ivan Faria, destacou que, entre os atributos da carne, a sustentabilidade é muito importante por ser diferencial frente a outros biomas do Brasil e até do mundo. ”A sustentabilidade que eu falo é comparativa, pois quando vou na gôndola e vejo uma carne que bioma amazônico que não pode vender para o exterior e vem para cá, disputando mercado conosco. Não temos como competir com uma pecuária tropical”, afirmou o pecuarista. Faria ainda disse que os sistemas de produção gaúchos são limitados até pela questão genética do gado, que precisa de uma alimentação diferenciada.
Ao lembrar que o Instituto Desenvolve Pecuária já organizou dois fóruns na busca de reunir os agentes envolvidos na cadeia da carne para tentar chegar ao mesmo lugar, ressaltou que agora, trabalham para uma alternativa a exemplo do que foi feito no Uruguai e no Mato Grosso. “Estamos trabalhando na construção do Instituto Gaúcho da Carne e vamos precisar do engajamento muito grande de todos, bem como de precisamos ter rastreabilidade, certificações de bem estar, na produção, e de balanças certificadas, controle das plantas e destinação dos produtos, na indústria”, explicou.
Sobre os preços de compra e venda, Ivan Faria disse que se trata de mercado, de relação básica do capitalismo. “Quem vende é porque não tem alternativas, comida, caixa, informação. É preciso entender todas as variantes para tomar a decisão certa de comercialização”, afirmou. E ele indica não vender. Como justificativa, Faria apresentou a informação de que o sistema de confinamento de outros estados não está à plena capacidade e a vaca vinda do norte só fará pressão no preço novamente no final do ano. Até mesmo os preços em elevação do boi futuro da Bolsa de Valores de São Paulo são indícios de que o setor pode sim sair da crise, garantiu. “Quem permanecer vai colher os frutos da sua resiliência”, complementou.
No início da live, o presidente da entidade, Luis Felipe Barros, aproveitou o encontro virtual para agradecer a união e o empenho dos associados em levantar R$ 72 mil para auxílio das pessoas atingidas pelas enxurradas no estado. Com o valor, a entidade doará 200 fogões e o residual da compra ainda será enviado em carne para alimentação dos necessitados.
O próximo painel ocorre no dia 21 de setembro, às 19h, com a participação do consultor de pecuária da Farsul e ex-professor da Ufrgs, José Fernando Piva Lobato, e do diretor comercial da GAP Genética, de Uruguaiana (RS), João Paulo Schneider, o Kaju.
Texto: Ieda Risco/AgroEffective