Em função da boa valorização de todas as categorias de animais em geral, os últimos anos foram de bons preços de terneiros, que levaram a um maior investimento na pecuária de cria em todo o país. A avaliação é do presidente da Comissão de Relacionamento com o Mercado do Instituto Desenvolve Pecuária, Ivan Faria. Isso se deve, conforme o dirigente, à retenção de matrizes, ao aumento de processos com o uso de tecnologias para reprodução mais assertivas, maior investimento em alimentação e material genético, que resultou em uma maior oferta de terneiros em todo o país, o que começa um ciclo de grande oferta na cria a partir deste ano e para o ano que vem.
Faria explica que este processo cíclico, que há 20 anos durava sete anos, há cinco anos passou para três anos e foi diminuindo até os de hoje onde se estima que se possa levar cerca de dois anos o processo de alta por falta de oferta e um processo de baixa por excesso de oferta. “Agora estamos vivendo um momento de alta em função desse processo na cria. A aceleração deste processo se deve hoje a vários produtores estarem colocando animais em reprodução aos 14 meses de idade”, destaca.
No caso da recria, como há uma maior oferta de terneiros, o representante do Desenvolve Pecuária acredita que se confirmou a tendência de queda do preço do terneiro em relação ao ano passado devido à maior oferta e a menor demanda, o que fez baixar o preço da recria e quem fez investimento nesta categoria para utilizar as pastagens de inverno mais uma vez vai amargar prejuízo. “Já há algum tempo esse sistema não vem remunerando em função do preço de compra do terneiro em relação ao preço de venda dele na saída da pastagem. Mesmo com a produção de quase 50% do peso vivo dele, ele não consegue acompanhar com a diferença de preço de venda os custos de produção. Então a margem neste ano deve ser negativa com estes preços sendo praticados agora de R$ 10,00 a R$ 10,50 o quilo”, observa.
Na engorda, de acordo com Faria, na venda dos animais para abate, há uma queda forte de preços baseada em uma oferta maior do que o ano passado e uma demanda muito menor por carne no mercado interno. “O nosso problema hoje é maior na demanda do que na oferta, porque com uma relação de destino de cerca de 30% de animais para a exportação e 70% de animais prontos para o abate para o mercado interno, a queda do consumo no mercado interno chegando há 50% dos níveis históricos está levando a sobrar muita carne”, salienta.
O dirigente reforça que no Rio Grande do Sul não se tem um aumento significativo da oferta. “Tivemos até uma diminuição pelo inverno rigoroso, e no resto do país temos no mínimo uma manutenção dessa oferta, o que leva a entrar carne muito barata de outros mercados aqui no Estado, o que nos tira competitividade em um momento de baixo poder aquisitivo da população onde a carne vira um artigo pesado no bolso e ainda temos a concorrência de outras carnes como a de aves e a de suínos, que tiveram seus preços mantidos baixos levando a uma migração do consumo para estas alternativas mais baratas. É um momento ruim de preços dos frigoríficos ao produtor e mesmo do varejo aos frigoríficos. O mercado interno continua pressionado e o varejo não mudou suas margens, que continuam altas, não repassando para o consumidor essa redução de preço da carne na cadeia produtiva e isso nos deixa com um produto caro fora do poder de compra do consumidor”, ressalta.
Na saída da recria das pastagens, o representante do Desenvolve Pecuária informa que existem notícias de algumas possibilidades de exportação, mas ainda não existe a sinalização de entrada forte dos compradores, ainda há algum entrave nas licenças de exportação, principalmente para a Turquia, e esse mercado ainda não está bem claro. “O que está claro é que baseado na grande oferta dos animais saídos das pastagens com a proximidade da chegada da época do plantio da soja, do milho e do arroz os campos começam a dar espaço para a agricultura e forçam a saída do gado. Talvez esses preços sejam atrativos para os exportadores. Verificamos episódios de compras de Estados como Paraná e São Paulo, mas em volumes pequeno. Espero que continuem com esse interesse e que mesmo com preços baixos continue mantendo alguma liquidez, pois em algumas situações não há o que fazer com os animais. O mercado gaúcho não tem como absorver toda a oferta da recria do inverno em função até do aumento das áreas da agricultura, especialmente a soja”, frisa.
Em relação a animais para abate, Faria vislumbra a possibilidade de um novo patamar de demanda a partir de outubro em função de que o ano novo chinês esse ano cairá em 22 de janeiro, o que deve antecipar a compra deste país. “Isso pode nos trazer um mercado mais demandado para a exportação. Da mesma forma existe uma possibilidade de que as eleições, com viagens das pessoas para suas cidades, possa trazer um maior volume no mercado interno, e ainda teremos a Copa do Mundo que também pode trazer uma demanda mais forte conforme o avanço do Brasil na competição, para depois nos engatar na demanda de final de ano que sempre traz aumento de consumo de carnes, principalmente os cortes para churrasco”, complementa.